Política equivocada estimulará bolha no setor
sucroenergético, diz o presidente da Unida, Alexandre Andrade Lima.
Depois de quase um ano no aguardo do reajuste do
valor da gasolina, na esperança de ver o etanol voltar a competir com o
combustível fóssil, o setor sucroenergético se frustra mais uma vez com a
ingerência do governo federal ao persistir num reajuste, em 4%, abaixo do valor
internacional. Se não bastasse o problema criado para a Petrobras, com prejuízo
de caixa porque tem comprado gasolina mais cara no mercado externo e vendido
mais barata internamente, bem como para as usinas e fornecedores de cana, pois
tem mantido a concorrência desleal com o combustível não poluente e renovável,
a decisão governamental ainda priorizou elevar o preço do diesel em 8%, um dos
principais insumos do transporte da cana e do etanol, aumentando seus custos de
produção.
O presidente da União Nordestina dos Produtores de
Cana (Unida), Alexandre Andrade Lima, alerta que a ação governamental além de
ampliar a insegurança de investidores no setor sucroenergético, também
acelerará a bolha financeira no segmento, a qual vem se ampliando por conta da
equivocada política nacional de combustível. “Batemos recorde na safra de cana,
o que aparenta mostrar que as coisas vão bem, mas não é bem assim”, diz. O
dirigente explica que, por um lado, o segmento sucroenergético, principalmente
na região Centro-Sul, está fortemente financiado pelo BNDS, no entanto, por
outro lado, com o desestímulo ao consumo do etanol, praticado pela política de
combustível do governo, não há milagres nas finanças para pagar tais
financiamentos. “Sem estímulo ao etanol, haverá um verdadeiro calote. Isso é
uma bolha, que estourará a qualquer momento”, pontua.
Lima arrisca a dizer que a quebradeira do setor já
começou em função da equivocada política de combustíveis. “A Bunge, que
investiu 2 bilhões de reais no setor, já está procurando compradores para
vender suas empresas”, revela. O quadro é ainda mais pessimista na sua
avaliação ao prever que com a atual intervenção nos valor de combustíveis,
outras empresas multinacionais também saíram do segmento, uma vez que não existe
segurança para quem quer investir no etanol brasileiro. “A prova disto é que em
cinco anos já fecharam mais de 50 usinas e outras dezenas estão em recuperação
judicial”, lembra.
“Isso
tudo é lamentável e incompreensível, mas por que quebrar até mesmo a própria
Petrobras”, critica Lima. Com o reajuste da gasolina de 4% na refinaria,
conforme aprovado pelo governo, o que corresponde a uma elevação para o
consumidor final de 2,5 %, a defasagem para a estatal continuará alta. A
Petrobras terá um prejuízo de 13%. O saldo da empresa na balança comercial foi
negativo em US$ 22,4 bilhões de janeiro a outubro deste ano, um valor não só
recorde como também 157% superior ao déficit de todo o ano de 2012. Em
contrapartida, o diesel foi reajustado em 8% na refinaria, podendo chegar ao
consumidor em 4%. Esta é uma condição terrível para o setor sucroenergético, já
que o diesel é bastante importante na produção agrícola e no transporte do
etanol, elevando os custos. “Com esta política suicida do governo em relação à
Petrobras e ao etanol, evidencia-se a política equivocada de desestímulo ao
combustível renovável e nacional, priorizando o combustível fóssil e importado”, finaliza.
Robério Coutinho
Assessoria de Imprensa da Unida